Muitos de vocês têm feito perguntas sobre as pesquisas com hemácias da OMF. Nesta quarta da ciência #OMFScienceWednesday, nós examinamos a diferença entre o formato das hemácias e a deformabilidade das hemácias, e como eles têm relação com o fluxo sanguíneo.
Formato das hemácias:
Vocês já viram uma imagem de uma hemácia anteriormente: é um pequeno disco rosado, mais claro no centro do que nas bordas. Parece mais claro no centro porque a célula é mais fina ali, permitindo maior passagem de luz.
Entretanto, as hemácias podem ter muitos formatos e tamanhos além do conhecido disco. Enquanto algumas variações são naturais e saudáveis, alguns formatos podem indicar doença. O exemplo mais comum está na anemia falsiforme, onde as hemácias se desenvolvem em um formato de meia lua, ou foice. Os formatos das hemácias são bastante distintos de forma que cada um tem um nome específico, e é difícil de confundir um formato por outro, com poucas exceções.
Algumas hemácias não saudáveis desenvolvem projeções espiculares ou protrusões (saliências). Estas são denominadas acantócitos (mostrados abaixo) e podem indicar hipotireoidismo, doença do fígado ou síndrome de Bassen-Kornzweig (abetalipoproteinemia).
A seta aponta um acantócito (isis325, cortada)
Hemácias com protrusões menores, mais arredondadas e simétricas são denominadas equinócitos ou hemácias crenadas e podem também ser evidência de doenças. Equinócitos podem indicar uremia, deficiência de piruvato quinase, baixo magnésio ou baixo fosfato. Infelizmente é difícil dizer com certeza quando pacientes possuem equinócitos no sangue: alguns preservativos ou corantes, como EDTA, podem transformar hemácias saudáveis em equinócitos!
A membrana celular nas hemácias é constituída de proteínas, gorduras e carboidratos. Isto significa que anormalidades na membrana celular podem ser uma boa maneira de encontrar problemas no metabolismo destes nutrientes. Problemas ao produzir muita quantidade de um certo metabólito, ou ao não se ter a capacidade de quebrar um nutriente podem causar anormalidades na membrana celular, que levam a formatos irregulares das hemácias. Por exemplo, os equinócitos têm esta forma estranha porque colesterol adere por fora da célula, criando a sua aparência de girassol.
Vejam aqui todos os formatos anormais das hemácias e algumas das doenças onde eles são encontrados.
Deformabilidade das hemácias:
Deformabilidade é a habilidade das hemácias mudarem de forma quando elas passam por um espaço apertado como o de um capilar. Os menores capilares podem ter somente 3 micrômetros de largura, enquanto uma hemácia saudável tem de 6 a 9 micrômetros de largura. As hemácias precisam passar por aberturas mais estreitas do que elas, significando que elas têm a necessidade de se deformar um bocado para passar através destas passagens tão pequenas!
Assim como o formato das hemácias, a sua deformabilidade também depende, em parte, da composição da membrana celular. Com os corretos carboidratos, gorduras e proteínas, as hemácias devem ser capazes de se deformar para conseguir passar pelos mais minúsculos capilares. Sem os componentes corretos na membrana celular, no entanto, a membrana pode se tornar rígida o suficiente para reduzir o fluxo sanguíneo, ou mesmo se tornar frágil a ponto de se romper sob pressão.
O formato e a deformabilidade das hemácias pode nos ajudar a entender questões sobre fluxo sanguíneo em ME / CFS, já que tanto o formato quanto a deformabilidade têm um efeito sobre o fluxo. Enquanto existem estudos mais antigos sobre fluxo sanguíneo e deformabilidade das hemácias em ME / CFS, existem agora tecnologias mais novas e precisas que usamos para medir deformabilidade e volume de sangue. Cientistas do Centro de Tecnologia Genômica das Universidades de Stanford e San Jose State estão trabalhando para desenvolver um ensaio sensitivo para medir a deformabilidade das hemácias examinando o fluxo através de capilares artificiais.
Utilizando estas novas técnicas, podemos examinar mais de perto o fluxo sanguíneo para determinar se ele está ou não comprometido em ME / CFS. Compreender a razão pela qual as hemácias em ME / CFS podem ter formatos não usuais ou deformabilidade comprometida pode fazer a ligação com as anormalidades metabólicas que observamos em alguns estudos. Compreender este aspecto da patologia da ME / CFS pode nos ajudar a entender o processo da doença ME / CFS como um todo, e levar a ensaios diagnósticos que os médicos clínicos poderão adicionar às suas ferramentas de diagnóstico.
Leiam nossa postagem anterior nobre as pesquisas com hemácias em Stanford: https://www.omf.ngo/2018/03/21/omf-funded-research-red-blood-cell-deformability-in-me-cfs/
A OMF agradece a Claudia Musso esta tradução para português.